sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Comentando o blog da Cris...

em resposta ao post no http://somosandando.wordpress.com/2010/10/13/veja-tenta-confundir-leitor-com-manipulacao-dos-fatos-mais-uma-vez/


Cris! Sempre com colocações pertinentes. Quanto à qualidade jornalística do conteúdo de Veja, confesso que não tenho mais ânimo para discussão... É caso perdido.
Mas vamos falar sobre o tema em questão. Sou contra o aborto. Em quaisquer que sejam as circunstâncias, por questões filosóficas, espirituais ou religiosas (como preferir), não acho que cabe à mãe decidir sobre a interrupção da vida de outra pessoa. Entretanto, concordo com você quanto à necessidade da descriminalização do aborto como ação de saúde pública. A mídia, a chamada opinião pública, vinha caminhando para este consenso. Além da matéria vinculada na própria Veja, na capa "Aborto", em setembro deste ano, uma reportagem investigativa exibida no Fantástico, mais uma vez mostrou o submundo das clínicas que se prestam a interromper a gestação das brasileiras. Pesquisa acadêmica, também deste ano, mostrou que de cada 5 brasileiras, 1 já fez aborto. Ou seja, o aborto já é cometido, mesmo sendo proibido por lei. Mas o mais grave é que a maioria dos procedimentos coloca em risco a saúde e a vida das mulheres, justamente por serem realizados às escondidas, por profissionais que se prestam a atender cidadãs que não têm como exigir condições mínimas de segurança. Trazer a mulher que deseja realizar um aborto para a rede de saúde "oficial" poderia, inclusive, fazê-la desistir de interromper a gravidez. Ela poderia receber apoio psicológico, médico, social e, por que não, até financeiro, se aceitasse levar a gestação até o fim. À ela, poderia ser dada a possibilidade de entregar o filho para adoção após o parto. Em último caso, encaminhar a criança para um abrigo. Enfim, trazer esses milhões de mulheres para a superfície da sociedade, saber delas seus medos, desejos e frustrações. Incluí-las nas estatísticas oficiais, cuidando da saúde delas e de seus filhos, que teriam chances reais de nascer. Todas essas ações não custariam mais do que é gasto hoje no tratamento das mulheres que precisam recorrer ao SUS após procedimentos de aborto mal sucedidos. Quase 200 mil curetagens ao ano, este é apenas um dos saldos perversos e dispendiosos da atual proibição do aborto. Tudo pago por nós, cidadãos. Aqueles que são contra ou à favor do aborto.
Sei que a Dilma e muitos dirigentes de seu partido pensam assim. Mas o que me decepciona e me revolta é a falta de dignidade de toda a campanha do PT em assumir e peitar esta opinião. Percebe-se um medo em perder votos em tudo que se faça e diga. Quando a oposição aproveita-se disso para acusar Dilma de duas-caras, infelizmente tenho que concordar com eles. Não se pode querer agradar a todos. Ela precisa convencer a maioria dos eleitores de que suas idéias são as melhores, e não mudá-las a cada pesquisa eleitoral. Outro exemplo: o PT sempre esteve em sintonia com movimentos e políticas afirmativas dos homossexuais. Quantos não foram os parlamentares petistas que propuseram direitos iguais para casais homoafetivos? Para agora a presidenciável assinar um compromisso com igrejas evangélicas em não enviar ao Congresso nenhuma proposta de alteração de leis que tenham implicações religiosas. E como fica o projeto de lei que regulamenta a união civil entre pessoas do mesmo sexo, parado à anos? Para os evangélicos, este é um tema religioso. Aí você pode me responder: mas ela apenas se comprometeu a não enviar tais leis para o Congresso, ela não prometeu não aprová-las, caso sejam enviadas para sanção presidencial. Tente explicar isso para o eleitor médio, que nem sabe qual o papel de cada um dos Três Poderes. Essa tomada de atitude dela e de sua campanha pode, sim, ser considerada como uma mudança de ideologia. Este compromisso firmado com as igrejas passa a ser um importante item de seu programa de governo e revela que tipo de dogmas e preconceitos poderão guiar suas políticas públicas. Se precisarmos nos restringir às entrelinhas do acordo, ou seja, se considerarmos que ele só se aplica à leis que poderiam ser enviadas pelo executivo, então mais uma vez teríamos que admitir que há a intenção de enganar alguém. Neste caso, os próprios evangélicos, que acreditam estarem apoiando uma candidata que comunga com eles dos mesmo paradigmas, quando na verdade, Dilma buscaria apenas apoio que lhe garanta a eleição...

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